domingo, 16 de outubro de 2011

Dia de Domingo com Sol e Bienal

Acordamos cedo. Não sabíamos bem se era cedo ou não, por causa do horário de verão. Mas, de qualquer forma, parecia cedo. Tomamos banho, café, escovamos os dentes e saímos de moto para o centro de Porto Alegre.
 
 
Primeira Parada: Rodoviária. Compramos as passagens necessárias para a semana. Nada estranho acontecia. As pessoas pareciam bem pois havia sol, e geralmente quando há sol as pessoas parecem estar bem. Montamos na moto e seguimos rumo ao Mercado Público.
 
 
Segunda Parada: Mercado Público. Estava fechado, como é comum estar todos os domingos. Nos perguntamos, olhando para os lados, por que só nós não sabemos disso?
 
 
Terceira Parada: Feira de Frutas ao lado do terminal do Mercado. Queríamos comprar damasco para um risotto que havia surgido em ideias culinárias na noite anterior. Caminhamos, mãos dadas, entre o mercado/terminal/feira, no ar ardia um odor que distinguimos como "cheiro de gente" e logo eu emendei "é bom sentirmos esse cheiro, para sempre lembrarmos que é daqui que nós somos". Na feira perguntamos pro moço da venda "tem damasco?" e ele "não, não, aqui não tem essas coisas. Isso aí mesmo eu só conheço por nome, nunca vi!". Me achei meio idiota, mas mesmo assim compramos morangos para usar no lugar do damasco.
Quarta Parada: Procuramos um Café mas, todos os estabelecimentos de alimentação matinal estavam fechados. "Porque não aproveitamos esse dia bonita, e já que estamos aqui, para ir na Bienal?". Proposta aceita, montamos na moto e saímos na contra mão rumo ao cais do porto.
 
 
Quinta Parada: Bienal. Entramos, tomamos um suco e comemos os morangos do risotto, acompanhando um torrada de queijo e um pão (de queijo). Tínhamos esquecido a máquina fotográfica e o celular para registrar. Adentramos no mundo geopoético da 8ª Bienal do Mercosul de Porto Alegre (devo confessar que desde muito tempo tenho frequentado as bienais aqui em Porto e em São Paulo, e jurava que já estava de saco cheio. A motivação em apreciar a exposição era mais pela manutenção de uma tradição familiar do que qualquer outra coisa, me sentia um tanto impelido edipicamente aos salões das obras) e nos surpreendemos com as cores das bandeiras que escorriam na parede branca, enquanto brancas ficavam as bandeiras. Ficamos mais espertos para o olhar que nos devolve um mundo e, particularmente, me surpreendi com as novas viagens ao futuro antigo das memórias, das nuances fronteiriças, das ambiguidades híbridas, dos lá e cá, leva e traz das formigas, do sensível do meio, dos objectos quase.
Não visitamos toda a exposição, pois a arte também solicita seu tempo de elaboração sensível, mas dentre todas as obras que nos surpreenderam, duas em especial gostaria de deixar comentadas aqui:
 
 
Primeira Obra: Um filme de Cristina Lucas onde encena a pintara de Eugéne Delacroix com a Liberdade levantando a bandeira francesa. É linda a montagem e a arte. Moveu algo em mim que sempre se perguntou, ao olhar uma pintura ou uma fotografia, "o que há 5 segundos antes, o que haverá 5 segundo depois?". E, precisamente nesta imagem, o que será feito de uma Liberdade, peito aberto, luz feminina que guia uma nova (des)ordem social?http://www.bienalmercosul.art.br/artista/221

Segunda Obra: Oito mesas de vidro contendo inúmeros Cartões Postais antigos originados de Israel, Jordânia e afins. As pessoas não escrevem dos conflitos, elas estão bem, felizes e são amigáveis. Não sei bem o motivo, mas essa obra me emocionou. Não sei o nome do artista e não encontrei foto no site.
http://www.bienalmercosul.art.br



A Geopoética aguçou a ardência do odor que sentimos entre o mercado e a feira, o cheiro de gente que nos lembra que somos daqui. Mas ao pensar e sentir que somos daqui quais as fronteiras que estamos delimitando para definir quem não é daqui? E, se preciso lembrar que sou daqui, é porque já estava de saída? Para onde levaria a saída de um lugar em que eu o constituo toda vez que olho, e o olhar me devolve um mundo? Que bandeira representaria o lugar indefinido que eu piso agora e invento ao caminhar sem pensar onde chegar? E que lugar seria este que tomo enquanto real, tão real enquanto o ar e o odor da rua?!?!
Saímos do Cais, voltamos para casa e fizemos o risotto, ficou muito bom.



Até mais... abraços fortes!


Nenhum comentário: