sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Homi Bhabha



Noção de Cultura em BHABHA

Todas as formas de cultura estão de algum modo relacionadas umas com as outras, porque cultura é uma atividade significante ou simbólica. A articulação de culturas é possível não por causa da familiaridade ou similaridade de conteúdos, mas porque todas as culturas são formadoras de símbolos e constituidoras de temas. Portanto, são práticas interpelantes.
Resistimos muito a pensar de que forma o ato de significação, o ato de produção dos ícones e símbolos, dos mitos e metáforas por meio dos quais vivenciamos cultura, devem sempre – em virtude do faoto de serem formas de representação – ter em seu interior uma espécie de limite auto-alienante. O sentido é construído de um lado a outro da linha divisória que separa e diferencia significante e significado. Decorre disso que nenhuma cultura é completa em si mesma, nenhuma cultura se encontra a rigor em plenitude, não só porque há outras que contradizem sua autoridade, mas também porque sua própria atividade formadora de símbolos, sua própria interpelação no processo de representação, linguagem, significação e constituição de sentido, sempre sublinha a pretensão a uma identidade originária, holística e orgânica.

Noção de tradução em BHABHA

Tradução é um processo pelo qual, a fim de objetivar o sentido cultural, é forçoso haver sempre um processo de alienação e de secundariedade em relação a si próprio. Sob esse aspecto, não há “em si mesmo” nem “por si mesmo” no interior das culturas, porque elas sempre estão sujeitas a formas intrínsecas de tradução. Tal teoria da cultura se aproxima de uma teoria da linguagem, como parte de um processo de traduções – usando essa palavra não no sentido estritamente lingüístico de tradução, como em “um livro traduzido do francês para o português”, mas enquanto um motivo ou tropo, como sugere Walter Benjamin para a atividade de deslocamento dentro do signo lingüístico.
Tradução é também uma maneira de imitar, mas num sentido traiçoeiro e deslocante – o de imitar um original de tal modo que a sua prioridade não é reforçada e sim, pelo próprio fato de ele poder ser simulado, reproduzido, transferido, transformado, tornado um simulacro e assim por diante: nunca o original se conclui ou se completa em si mesmo. O “originário” será sempre aberto à tradução, portanto nunca pode ser dito que tenha um momento antecedente, totalizado de sentido ou de ser – uma essência. Isso quer dizer, que as culturas só são constituídas em relação a essa alteridade interna á sua própria atividade formadora de símbolos que as faz estruturas descentradas – e que por intermédio desse deslocamento ou liminaridade abre-se a possibilidade de se articularem práticas e prioridades culturais diferentes e mesmo incomensuráveis.

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Texto do Grande Mestre e Amigo Mauro Gaglietti

Um comentário:

cineclube Cine Artes UERJ disse...

onde encontro este livro?

abrçs